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GP do México, 1970: público assistiu à corrida de dentro da pista

GP do México, 1970: público assistiu à corrida de dentro da pista

Olá, amigos. Como o próximo GP da F1 será o GP do México, no fim de semana, me veio à mente a história que Emerson Fittipaldi me contou há alguns anos sobre essa mesma corrida, a edição de 1970. Obviamente eu já havia lido algo a respeito. Mas Emerson me deu detalhes incríveis daquele evento. Considero ser o momento ideal para lhes repassar o que ouvi.

“Cheguei na Cidade do México depois de ter vencido duas semanas antes minha primeira corrida de F1, em Watkins Glen, nos Estados Unidos, no meu quarto GP na categoria, apenas. A dura perda do Jochen Rindt em Monza levou Colin Chapman a me definir como piloto número 1 da Lotus”, disse-me Emerson. Sua vitória garantiu o título mundial a Rindt, apesar de morto.

Naquele ano, 1970, os mexicanos tinha Pedro Rodriguez na F1, piloto da equipe BRM, na sua melhor temporada. Havia largado na primeira fila, em Monza, e chegado em segundo na prova anterior do calendário, a vencida por Emerson. O interesse pelo GP do México, 13ª e última etapa do campeonato era grande.

GP do México: histórico até os dias de hoje

O autódromo do GP do México seria o mesmo onde agora o notável Lewis Hamilton, da Mercedes, pode tornar-se campeão do mundo pela sexta vez. O traçado, no entanto, é outro. Hoje, com 4.304 metros, sem a veloz e perigosa curva Peraltada, é bem menos desafiador que o de 5 mil metros de 1970.

Seu nome também era outro, Ciudad Deportiva Magdalena Mixhuca em vez de Hermanos Rodriguez, em homenagem a Pedro, falecido em 1971, em um acidente no circuito de Nuremberg, Alemanha, e seu irmão, Ricardo, morto em um acidente no GP do México mesmo, em 1962.

“Poucas vezes vi tanta gente em um autódromo como no domingo, dia da corrida (dia 25 de outubro). Os organizadores falaram em 200 mil pessoas. Acredito ser verdade. Até aí, ótimo, é legal ver um público numeroso e cheio de entusiasmo. O problema é que boa parte dessa gente toda estava dentro da pista. Como não havia lugar para todos nas arquibancadas, acreditaram que poderiam sentar confortavelmente na grama ao lado do asfalto ao longo de quase todo o circuito.”

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Emerson pediu para se retirarem

Obviamente que não iriam começar a corrida com o público posicionado a poucos metros da passagem dos carros. “Jackie Stewart e o ídolo local, Pedro Rodriguez, me pediram, como falo espanhol, para acompanhá-los por uma volta ao redor da pista em um carro aberto a fim de explicar ao povão que se não passassem para o outro lado do guardrail não haveria corrida. Eu era bem jovem, 23 anos somente, na época pouco comum na F1.”

Jo Ramirez, mexicano também, chefiava a equipe Tyrrell de Stewart. “Atrasaram a largada em um hora.”

Eles foram atendidos apenas parcialmente e por pouco tempo. Tão logo os carros completaram a volta de apresentação e se posicionaram no grid para a largada, os fanáticos torcedores estavam de volta ao gramado rente ao asfalto.

“Eu tive problemas na minha Lotus na classificação. Não consegui completar uma única volta com o carro em condições, o motor falhava. Assim, fiz somente o 18º tempo, um tanto decepcionante porque, como falei, vinha de uma vitória, estava com o gás todo.”

Largaram assim mesmo

O fato é que, naquelas circunstâncias, a direção de prova autorizou o largador abaixar a bandeira para o início do GP do México. Veja no vídeo as imagens daquele espetáculo onde não era preciso ter imaginação para entender que uma tragédia poderia acontecer.

“Larguei lá atrás, confesso estar preocupado em não atropelar dezenas de pessoas. Você acredita que eu estava colado no carro na minha frente quando saímos de uma curva e vi um cidadão em cima da zebra, no ponto onde colocamos a roda traseira? Passei a centímetros dele. Consegui ver que tinha na mão uma câmara Kodak Instamatic, a mais simples possível, podíamos comprá-la em qualquer lugar.”

Ainda na segunda volta, Emerson teve de abandonar o GP do México. O motor Ford Cosworth, embora novo, o deixou na mão. “Não completei sequer duas voltas. Uma pena. Assisti ao fim da corrida dos boxes.”

Os anjos todos trabalharam exaustivamente naquele domingo e não houve nenhum acidente grave, ao menos envolvendo a torcida. Mas os pilotos, sim.

Atropelou um cachorro

“Conversei com o Jackie (Stewart) depois, estava louco da vida, por ele a F1 não voltaria mais para o México. Explico: Na 34ª volta de um total de 65 o Jackie liderava. Foi aí que ele sentiu um baita impacto na frente do seu Tyrrell e viu a suspensão destruída. Jackie atropelou um cachorro. Se tivesse atingido o capacete, naquela velocidade, o mataria de imediato.”

Com isso, a dupla da Ferrari, Jacky Ickx e Clay Regazzoni, recebeu a bandeirada em primeiro e segundo lugar.

A invasão de pista, de público e do cão levaram a FIA a retirar o México do calendário da F1. Só voltaria 16 anos mais tarde, em 1986.

A realidade tanto da F1 como do evento na Cidade do México é, hoje, muito diferente da de 49 anos atrás. Em tudo. Por infinitamente menos o diretor de prova, o australiano Michael Masi, sequer autorizaria os carros deixarem os boxes para os treinos livres.

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