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Quanto um piloto deve investir até chegar na F1?

Quanto um piloto deve investir até chegar na F1?

A bordo de impecáveis carros antigos, conversíveis, ou na caçamba do longo veículo da F1, os 20 pilotos que apenas três horas mais tarde vão estar no grid, aguardando a largada do GP, acenam para o público. É a conhecida drivers parade. Quem os vê felizes, agradecendo as manifestações de carinho da torcida, não imagina os desafios que tiveram de enfrentar até chegar àquele momento.

Os pilotos da F2 também fazem a sua drivers parade. E nela está sempre o mineiro de 20 anos, da equipe Carlin, patrocinado pela Youse.

Retornando a F1. Antes de assinar contrato com uma das dez equipes todo piloto teve de percorrer um longo caminho. A grande maioria começou no kart, com seus 7, 8 anos de idade, aos 16 já competia de automóvel, hoje na F4, e a partir daí muita coisa precisou dar certo para o sonho de estar no drivers parade da F1 se concretizar.

Não há uma receita única, quais categorias disputar, ainda que a maior parte saia do kart para correr, depois, na F4, F3 e F2, antes de se candidatar a uma vaga na F1. Seja como for, seguindo essa receita clássica ou mesmo uma alternativa, como substituir a F2 pela SuperFormula japonesa, o piloto e seu empresário sabem que vão precisar de muito dinheiro.

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E a nossa conversa, agora, é exatamente sobre o quanto terá de ser investido sem que haja garantia alguma de que o projeto conduzirá o piloto até a F1. Não acabou: o piloto pode demonstrar talento e competência para ser escolhido por um dos dez chefes de equipe da F1, mas são poucas as que não precisam exigir deles importantes somas de dinheiro, em geral bancadas pelos patrocinadores.

Como mencionado, a carreira de pilotos, a melhor escola, começa no kart. Se no ano de estreia do automobilismo ele completar 16 anos, então já com 15 pode competir com automóveis, a maioria na F4. O kart é uma formação cara. Pode parecer incrível, mas custa mais do que as primeiras categorias, como a F4 e não é muito diferente do que se gasta no estágio seguinte, a Fórmula Renault 2.0.

Primeiro, o Kart


Sérgio Sette Câmara no campeonato europeu de Kart, em 2013

Fixemo-nos no kart. Depois de o menino entrar nesse mundo nas competições brasileiras, disputando por exemplo os vários campeonatos disputados em São Paulo, os de melhor nível técnico, até porque jovens pilotos do país todo se deslocam a São Paulo, está na hora de conhecer como se pratica o kart na Europa.

É tudo mais complexo, evoluído, competitivo e caro. É possível fazer um cálculo a partir de um dado básico: ser piloto de uma equipe de ponta, daquela que permitirá ao piloto disputar as primeiras colocações no Campeonato Europeu e mesmo no Mundial, custa 15 mil euros por etapa, algo como R$ 75 mil. Como o ideal para a formação desses jovens adolescentes é disputar cerca de 20 etapas por temporada, o investimento necessário chega a 300 mil euros, ou R$ 1,5 milhão.

Fora o que o piloto e possivelmente alguém que esteja com ele precisam para viver fora do Brasil, como ter um pequeno apartamento na Europa e os gastos para viver.

O nosso piloto mostrou ter dotes inegáveis de velocidade, saber administrar uma corrida, venceu algumas corridas e chamou a atenção no meio, a ponto de equipes do automobilismo demonstrarem interesse inicial em contratá-lo, desde que, obviamente, banque sua temporada.

Subindo de nível


Leonardo Lorandi, piloto da F4 italiana

Se a opção for a F4 italiana, com seus 30 carros no grid, ou a alemã, por exemplo, as mais recomendadas hoje, o investimento necessário atingirá 200 mil euros, ou R$ 1 milhão.

Voltemos ao nosso piloto. Ele é bom mesmo. Repetiu na F4, com seus 180 cavalos de potência, os predicados evidenciados no kart. Para sua melhor formação, agora a opção mais indicada é disputar o Campeonato Europeu de Fórmula Renault 2.0, que adota um carro com alguns recursos a mais do usado na F4, além de maior potência, 200 cavalos.

O custo da temporada em uma equipe que lhe permita estar entre os primeiros colocados está na casa dos 300 mil euros (R$ 1,5 milhão). Combinemos o seguinte: toda vez que aparecer o custo para disputar o campeonato não está incluído o necessário para viver na Europa, ok?

Você quer saber quanto o piloto teria de dispor para estar de março ao fim de outubro na Europa?

Depende de onde ele quer morar e em que condição. Mas calcule 4 mil euros (R$ 20 mil) por mês com moradia, taxas, alimentação, preparação física, algum lazer.

Terá ainda como despesa a compra de passagens aéreas, não caras por ser uma ou duas horas de voo, a aquisição de um carro, pode ser usado, e a estadia e alimentação nos fins de semana de corrida. Pense em alguma coisa como 4 mil euros (R$ 20 mil) por mês, sendo que a compra do carro é a parte. Com 20 mil euros (R$ 100 mil) o piloto terá um bom veículo para se movimentar pela Europa.

Entrada na F3


Sérgio Sette Câmara na etapa da Alemanha de F3, em 2016

Estamos descobrindo que o nosso piloto dá pinta de poder chegar e fazer bonito na F1. De novo disputou um grande campeonato, desta vez na Fórmula Renault 2.0. No ano seguinte ele estará na avançada F3, com seu carro de 240 cavalos e projeto que, conceitualmente, lembra a F1, com refinada aerodinâmica.

Até este ano, o mais indicado a seguir era o conceituado Campeonato Europeu de F3, com três corridas em cada uma das dez etapas, 30 no total, portanto excelente aprendizado. A F3 Europeia será agora apenas F3. A GP3, destinada a receber pilotos da F3 antes de tentarem a complexa F2, deixará de existir.

Assim, o fã do automobilismo terá no mesmo fim de semana de GP de F1 duas corridas de F2, que falaremos a seguir, e da F3, esta no lugar da GP3. Tanto quem gosta desse negócio chamado corrida de carro como os chefes de equipe da F1 vão ter as duas maiores vitrines de pilotos, sonhando com a F1, do seu lado. A exposição dos meninos da F3 será bem maior.

Para disputar a excelente opção da F3, em especial a partir de 2019, pela proximidade com a F1, será necessário investir para ser piloto de um time potencialmente vencedor 800 mil euros (R$ 4 milhões).

Fórmula 2: a antessala da F1

Sérgio Sette Camara
Sérgio Sette Câmara na F2

Estamos realmente nos dando bem. Também na superdisputada F3 o nosso piloto esteve entre os protagonistas. É inevitável pensar no estágio seguinte, onde os meninos serão separados dos homens, a F2, com seu carro gerador de grande pressão aerodinâmica, o que lhe dá elevada velocidade nas curvas, equipado com um motor turbo de pouco mais de 600 cavalos.

Em pistas como Barcelona, por exemplo, os carros da F2 são cerca de 12 segundos, apenas, mais lentos que os da F1. Acredite, não é muito. Repare que um piloto que seja capaz de conduzir um monoposto como os da F2, com sua elevada velocidade, 300 km/h no fim das retas maiores, é porque tem talento. E o demonstrou por onde passou até então, kart, F4, F Renault 2.0 e F3.

A única coisa que não sabemos, ainda, é qual a extensão do seu talento. Mesmo no caso do nosso piloto, que até agora superou todos os obstáculos até atingir a F2.

Foco na F2, agora. Não é por acaso ser conhecida como a antessala da F1. É veloz e custa caro. Uma temporada em uma escuderia que disponibiliza ao piloto um carro vencedor, como a Carlin, de Sérgio, ou a ART, do líder do campeonato, o inglês George Russell, ou a DAMS, do terceiro colocado, o tailandês Alexander Albon, cobra entre 1,6 e 1,8 milhão de euros (R$ 8 e 9 milhões).

O topo da pirâmide


Carro de Fórmula 1 2018 da Mercedes-AMG

Ufa, estamos prontos para encarar o desafio da F1 de frente. Nosso piloto confirmou na F2 tudo o que evidenciou desde o kart. E os chefes da F1 têm interesse em tê-lo em suas equipes.

Bem, esqueça quase tudo o que falamos até agora. A F1 tem regras próprias. E valores, necessidades de investimento, da mesma forma únicos. Ferrari, Mercedes, Red Bull, Toro Rosso, Renault e McLaren não exigem de seus pilotos que levem somas bem elevadas de seus patrocinadores, o que não quer dizer que se eles tiverem e desejarem investir não serão bem vindos. Se não houver conflito de interesses com os patrocinadores que já estão no carro, os novos são bem recebidos, claro.

Mas Williams, Sauber, Force India e Hass precisam do dinheiro dos patrocinadores dos pilotos para disputar a F1. Por vezes é uma questão de sobrevivência, como é o caso da Williams, por exemplo. E os valores dependem muito da necessidade do time e do tipo de acordo.

Este ano, o russo Sergey Sirotkin, por exemplo, contribuiu para o orçamento da Williams com 15 milhões de euros (R$ 75 milhões). Mesmo valor levado por Sérgio Perez para a Force India, agora Racing Point Force India, e o sueco Marcus Ericsson para a Sauber.

Outro tipo de negócio: para ter o francês Esteban Ocon na Racing Point Force India, o seu empresário, o austríaco Toto Wolff, diretor da escuderia Mercedes, dá um desconto de 5 milhões de euros (R$ 25 milhões) nos 15 milhões de euros que o time deve pagar à montadora alemão pelo uso do seu motor.

Bem, temos aqui uma espécie de raio X dos investimentos necessários para levar um menino que sonha ser piloto do kart até a F1. Como? Você não fez as contas, é isso? Ok, vamos lá.

Duas temporadas no kart europeu, depois de várias no Brasil, custarão ao piloto 300 mil euros cada. F4 italiana, 200 mil euros. Na Fórmula Renault 2.0, voltamos para 300 mil euros. Na F3 atingimos 800 mil euros. Na F2, avançamos para 1,8 milhão de euros. Total do investimento, com os dois anos no kart: 3,7 milhões de euros (R$ 18,5 milhões).

E na F1 é como acabamos de explicar. Se o nosso piloto não fizer parte de nenhuma academia das equipes, e em alguns casos mesmo sendo integrante delas, com menos de 15 milhões de euros dificilmente nosso piloto disputaria uma temporada de F1, com chance, apenas, de tudo dando certo, somar pontos em um ou outro GP.

Responda agora: quando você assistir na TV ou mesmo estiver no autódromo e ver o pilotos no drivers parade, não irá enxergá-lo de outra forma, com muito mais respeito, seja quem for?

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