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Os ensinamentos de Barein: Ferrari é rápida, mas frágil, Leclerc tem supertalento e Vettel já está sob pressão

Os ensinamentos de Barein: Ferrari é rápida, mas frágil, Leclerc tem supertalento e Vettel já está sob pressão

Muita gente respirou aliviada já na sexta-feira, lá no Barein, onde estava para acompanhar de perto a segunda etapa do campeonato da F1 e a de abertura da F2. Isso porque Charles Leclerc e Sebastian Vettel demonstraram depois das duas sessões de treinos livres no Circuito de Sakhir que a Ferrari tem, de fato, um carro rápido.

Havia o temor depois da primeira prova do ano, na Austrália, de a Mercedes não ter novamente adversários, pois na definição do grid Lewis Hamilton, pole position, foi 704 milésimos mais rápido que Vettel, terceiro, e na corrida Valtteri Bottas, também da Mercedes, venceu com uma vantagem de 57s109 para Vettel, quarto.

Tanto os treinos de sexta-feira, como a classificação, sábado, e a corrida, domingo agora, evidenciaram que o modelo SF90 da Ferrari é tão ou mais rápido que o W10 da Mercedes. Com uma diferença, por enquanto: menos confiável. Haja vista que Leclerc largou na pole, liderou a maior parte da corrida, até que a unidade motriz italiana apresentou uma falha, fazendo-o cair para terceiro.

A Mercedes, mesmo sem dispor do carro mais rápido, mas o mais resistente, venceu e de dobradinha. Enquanto em Melbourne Bottas foi primeiro com Hamiton em segundo, no Barein o inglês venceu com o finlandês em segundo.

Esse é, portanto, amigos, o primeiro ponto da conversa. A Ferrari é adversária da Mercedes, não deveremos assistir a um passeio da equipe alemã como muitos fãs da F1 precipitadamente se manifestaram em seguida à abertura do mundial.

Outro questão. Bottas ganhou a primeira etapa com todos os méritos. Um problema no assoalho de Hamilton e fez perder performance. Mas mesmo que estivesse com o carro no melhor das suas condições, é provável que não superasse Bottas. Foi o melhor trabalho do finlandês nos seus 119 GPs até então.

Mas vimos neste domingo na pista localizada no meio do deserto que aquele foi um episódio isolado. Na média, a eficiência de Hamilton é muito superior, como atestam, por exemplo, suas nove vitórias em 2018 diante de nenhuma de Bottas. O finlandês é muito bom piloto, enquanto Hamilton, genial, está em outro patamar. Até a entrada do safety car, na 55ª volta, a duas da bandeirada, Hamilton tinha 22 segundos de vantagem para Bottas.

Unidade motriz, ou motor, a grande diferença

Vamos para a Ferrari. A unidade motriz italiana voltou a fazer a diferença, como foi na metade da temporada passada também. Desta vez, porém, ao que tudo indica, nunca se sabe, sem uma interpretação particular do regulamento, como foi em 2018. A partir do momento que a FIA exigiu mudança no sistema de recuperação de energia, em Monza, a Ferrari perdeu performance.

Agora, de novo, está à frente da Mercedes, responde com mais potência em todas as faixas de giros. Se os italianos conseguirem conferir confiabilidade a sua unidade motriz não será fácil para a Mercedes, a curto prazo, igualar seu desempenho.

Mais da Ferrari: campeão do ano de estreia na GP3, em 2016, com 18 anos, campeão na estreia na F2 também, em 2017, revelação da F1 no primeiro campeonato, no ano passado, na Sauber. E agora já pole e pódio na segunda vez que pilotou para a Ferrari. Ainda mais importante, foi ver como sabe liderar um GP, desafio não fácil, em especial para quem não tem experiência com carros rápidos da F1.

Leclerc confirmou ser uma realidade. A Ferrari apostou nele ao levá-lo a sua academia. Ajudou a formá-lo. Agora colhe os frutos. Um vencedor em potencial e, pela regularidade, apesar da juventude, 21 anos, esse monegasco deu pinta de poder disputar o título.

A chegada de Leclerc na Ferrari criou um problemão para Vettel, outro dos nossos temas. Tenha certeza de que a sua rodada, logo depois de perder o segundo lugar para Hamilton, na 38ª volta de um total de 57, tem a ver com o fato de ter perdido a disputa para Leclerc no Circuito de Sakhir. Não queria ficar ainda mais para trás. Àquela altura Leclerc era líder desde a sexta volta.

No grid, Vettel ficou em segundo, 204 milésimos mais lento que o monegasco, largou melhor e ultrapassou o companheiro para liderar até a sexta volta, quando Leclerc avisou no rádio, na passagem anterior, estar mais rápido e sem hesitação ultrapassou Vettel para liderar a corrida. Ele o fez até a 45ª volta quando perdeu potência e foi ultrapassado por Hamilton e Bottas.

Piloto impulsivo

Vettel, apesar de alemão, não mantém a frieza nesses momentos, como bem demonstra sua história. É do tipo impulsivo. E o automobilismo costuma cobrar caro esses comportamentos pouco racionais.

Você se lembra de Baku, em 2017, quando jogou sua Ferrari em cima de Hamilton, em pleno regime de safety car, por acreditar que o piloto da Mercedes freou de propósito para que se chocasse contra sua traseira e danificasse o aerofólio dianteiro? Os comissários puniram Vettel que chegou só em quarto enquanto a vitória era o resultado mais lógico.

No domingo agora Hamilton já o havia ultrapassado quando perdeu a traseira do carro. Vettel precisou travar as rodas com os freios para evitar de colidir contra o guardrail, tornando seus pneus “quadrados”. A vibração passou a ser tal que soltou o aerofólio dianteiro, obrigando-o a um terceiro pit stop.

Resumindo, Vettel terminou em quinto, enquanto a terceira colocação, atrás de Leclerc e Hamilton, era bem possível. Ver o jovem companheiro ser mais rápido que ele o fez tentar ir além dos limites, perder lucidez, tomar decisões equivocadas naquela fração de segundo ali na pista.

Se você se recorda, temos outros exemplos além daquele de Baku, em 2017. No ano passado, Vettel perdeu importantes pontos que facilitaram a conquista do quinto título de Hamilton nestas pistas: Paul Ricard, Red Bull Ring, Hockenheim, Monza, Suzuka e Austin. É muito para quem já conquistou quatro títulos seguidos, de 2010 a 2013.

Norris, estrela emergente

Mais do GP de Barein. Assim como Leclerc, há outro piloto bem jovem em ascensão, o inglês Lando Norris, 19 anos, da McLaren. Na segunda corrida de F1 recebeu a bandeirada em sexto. Norris foi vice-campeão da F2, no ano passado, na temporada de estreia, com 18 anos, tendo disputado o título com George Russell até a última etapa. No ano anterior, conquistou o prestigioso Campeonato Europeu de F3. Guardemos esse nome, Lando Norris. Tem grande potencial.

Ficaríamos conversando aqui horas. Max Verstappen obteve o máximo possível com o modelo RB15-Honda da Red Bull, quarto, o mesmo podemos dizer de Kimi Raikkonen, sétimo com o C38 da Alfa Romeo, e o veloz Alexander Albon, tailandês, 23 anos, marcou pontos na sua segunda corrida de F1, nono com o STR14-Honda.

Renault, muito abaixo do esperado

Triste foi ver a Renault abandonar com os dois pilotos, Nico Hulkenberg e Daniel Ricciardo, ao mesmo tempo, na 53ª volta, com problemas na unidade motriz. Senhores, o GP de Barein foi o segundo do calendário, ainda, temos mais 19 pela frente, e o regulamento impõe o limite de três unidades motrizes por piloto para as 21 etapas do ano.

Já na Austrália, Carlos Sainz Júnior, com McLaren-Renault, parou o carro com o mesmo problema de Hulkenberg e Ricciardo no Circuito de Sakhir, o sistema de recuperação de energia cinética, MGU-K.

Vamos para o próximo GP do calendário, terceiro, o da China, dia 14, o milésimo da história da F1, em uma pista onde a unidade motriz vai contar mais do que nos dois primeiros. E em seguida, para a corrida de Baku, dia 28, em que com sua reta de dois quilômetros o peso da velocidade final tem peso ainda maior, ou seja, a unidade motriz é decisiva.

Se a da Ferrari não apresentar nova pane, Leclerc e Vettel têm boas chances de aparecerem muito bem nos dois eventos, o que para a F1 seria bom, a fim de evitar de a Mercedes abrir importante diferença na classificação, tornando menores as chances, depois, de Leclerc e Vettel lutarem pelo título com Hamilton e, quem sabe, Bottas.

Acredito que vocês acompanharam aqui no site da Youse o promissor desempenho do Sérgio Sette Câmara nas duas primeiras corridas da F2, este ano. O piloto patrocinado pela Youse foi terceiro no sábado e segundo no domingo. Está em terceiro na classificação, com 27 pontos, diante de 35 do companheiro de equipe na DAMS, o canadense Nicholas Latifi, primeiro e terceiro, e 37 do italiano Luca Ghiotto, da UNI-Virtuosi, segundo e primeiro. A próxima etapa da F2 será no Azerbaijão, dias 27 e 28. 

Abraços, até a próxima.

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