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Sérgio Sette Câmara e os desafios da corrida na Hungria

Sérgio Sette Câmara e os desafios da corrida na Hungria

Livio Oricchio, de Budapeste (Hungria)

O Campeonato da F2 está entrando na reta final. Os 20 pilotos que disputam a competição começam a ter uma ideia um pouco melhor do quanto andou para a frente seu sonho de chegar a F1. Neste fim de semana será disputado o GP da Hungria, no autódromo Hungaroring, próximo a Budapeste, oitava etapa de uma temporada com 12 GPs, sempre no mesmo fim de semana da F1.

Excepcionalmente, a F2 não viajou para a Alemanha, junto da F1, no último fim de semana. Assim, após o evento em Silverstone, na Inglaterra, dias 7 e 8, o campeonato fez uma breve pausa. Agora está de volta.

Depois de 14 corridas, pois a cada etapa há sempre duas, uma no sábado e outra no domingo, o inglês George Russell, 20 anos, piloto da Academia da Mercedes, e na F2 da equipe francesa ART, soma 170 pontos, é o líder. A seguir vem o inglês Lando Norris, 18 anos, da Academia da McLaren, da inglesa Carlin, com 133, e do tailandês Alexander Albon, da francesa DAMS, com 115.

O único brasileiro na F2 é o mineiro Sérgio Sette Câmara, de 20 anos, companheiro de Norris na Carlin. O piloto que mais problemas teve no carro este ano: desclassificado por não ter gasolina no tanque na segunda corrida no Azerbaijão, depois de ser segundo, pane elétrica na classificação na Espanha e na prova do domingo, e quebra do motor na Inglaterra, no sábado. Além disso, Sérgio errou na definição do grid, em Mônaco, colidiu contra o guardrail, sofreu uma lesão no punho direito e não pôde disputar nenhuma das duas corridas.

Com tudo isso, Sérgio está em sexto na classificação do campeonato, com 86 pontos. O mais importante para o piloto, no entanto, é o fato de os números não expressarem o bom trabalho que realiza este ano na sua segunda temporada na F2. Em todas ocasiões em que seu carro funcionou normalmente, esteve entre os protagonistas, obtendo quatro pódios.

Antes de viajar para Budapeste, para disputar as duas corridas da oitava etapa do calendário, Sérgio deu o depoimento abaixo para a Youse.

“Tenho consciência de ter feito a minha parte”

Sérgio Sette Câmara, em depoimento a Livio Oricchio

Oi amigos, como estamos?

Vamos agora para os 4.381 metros do Circuito Hungaroring, cenário bem diferente de onde estivemos no último GP da F2, em Silverstone. Na Hungria há uma única curva rápida, a 11. O restante é de baixa ou no máximo média velocidade. É bom para a F2, ou qualquer outra categoria, dispor de diferentes traçados.

Pessoalmente prefiro os muito rápidos, como Spa-Francorchamps, na Bélgica, onde já venci, e por mais paradoxal que possa parecer, os de rua também, a exemplo de Mônaco. O que não quer dizer, por favor, que não encaro com prazer disputar corridas em pistas como a do próximo fim de semana. Estar em um carro potente como o da F2, com mais de 600 cavalos, é sempre prazeroso em qualquer lugar.

O bom deste ano para mim é que apesar dos muitos problemas que enfrentei até agora vou para os GPs com uma baita gana de obter o que sei ser possível. A Carlin disponibiliza para mim e o meu companheiro, o Lando, um carro competitivo. Hoje não tem a mesma velocidade e equilíbrio do carro da ART do líder Russell, uma das razões de ele ter aberto uma diferença para o restante na classificação, mas temos equipamento, sim, para lutar pelo pódio com regularidade.

É essa certeza que me faz ter muita fé em cumprir a meta de 20 pontos por fim de semana de GP. Como são 12 etapas na F2, eu esperava, e espero, somar depois do último evento, dia 25 de novembro em Abu Dhabi, 240 pontos, o que me daria a terceira colocação no campeonato, pela média dos últimos anos.

Estou com apenas 86 em razão dos problemas técnicos que enfrentei. Tenho consciência de ter feito a minha parte. Se você verificar prova a prova o que me aconteceu e me dar a pontuação que seria normal obtê-la, pela colocação em que me encontrava até as panes aparecerem, verá que eu estaria além da minha meta de 140 pontos somados nas sete etapas já realizadas.

“Quebra do motor, por exemplo, amigos, não é responsabilidade da equipe, mas coisa de corrida, do automobilismo”

Como já li de pilotos do calibre de Michael Schumacher e Fernando Alonso, nós fazemos o que está ao nosso alcance. Se o equipamento falha, no automobilismo de hoje a responsabilidade não é nossa. Pegue o caso de Silverstone, dias 7 e 8. Saí de lá como se não estivesse estado, pois não somei ponto algum. O motor quebrou no sábado, quando o pódio estava nas minhas mãos, e no domingo, largando lá atrás, creio que teria dado para chegar em oitavo, por exemplo, e marcar um pontinho.

Mas o que aconteceu? Largando lá atrás, tinha de estar mais atento a quem estava do meu lado, estudar um pouco mais o adversário. Tentei ultrapassar o Latifi (canadense Nicolas Latifi, da DAMS, da Academia da McLaren) e ele me fechou a porta como um piloto que anda na frente não faria, ao menos na condição em que nos encontrávamos. Danificou meu aerofólio dianteiro. A corrida, na prática, acabou para mim.

Na pré-temporada, vi que dava para disputar o título este ano, pelo profissionalismo e competência do pessoal da minha equipe, a Carlin. Mas aí, como descrevi, aconteceu já de tudo. Quebra do motor, por exemplo, amigos, não é responsabilidade da equipe, mas coisa de corrida, do automobilismo.

Para chegar nos 240 pontos planejados até o fim do ano terei de, primeiro, contar que não mais enfrentarei as dificuldades técnicas deste ano, e somar mais dos 20 pontos de minha meta inicial. Possível? Claro que sim. Como falei, cresci como piloto do ano passado para este e a Carlin é bem mais estruturada que a minha equipe de 2017 (a holandesa MP Motorsport).

O que tenho de fazer é correr com maturidade, não achar que por conta do que perdi preciso sair como um louco para recuperar. Não é assim que as coisas funcionam quando a diferença entre nós no grid se mede em milésimos de segundo. Se não pensar no que faço as chances de não somar nenhum ponto é bem maior.

Em Budapeste as temperaturas costumam ser impressionantemente elevadas. De antemão imagino existir, desde já, um desafio maior, administrar o desgaste dos pneus. A Pirelli manteve na F2 o critério de pneus de degradação mais rápida, como era na F1 até 2016, a pedido dos promotores, para criar mais alternativas de estratégia e tornar as corridas menos previsíveis.

Vamos lá, amigos. Nos encontramos aqui na semana que vem, quando contarei a vocês como foi. Grande abraço.

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