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Sérgio Sette Câmara fala sobre conquistas e obstáculos na etapa da Bélgica de F2

Sérgio Sette Câmara fala sobre conquistas e obstáculos na etapa da Bélgica de F2

Depois das duas corridas da nona etapa do Campeonato de F2, disputadas no último fim de semana no Circuito Spa-Francorchamps, na Bélgica, a competição vai para a Itália, no autódromo que fãs e profissionais do automobilismo definem como um templo da velocidade, Monza, cuja história remonta quase à origem do automóvel. A décima etapa da F2 será já no sábado e domingo.

O calendário da F1 e da F2, este ano, com todas as 12 etapas realizadas em conjunto, nos mesmos dias, tem pistas de baixa velocidade, notadamente as de rua, como a de Monte Carlo, em Mônaco, de média velocidade, à exemplo de Paul Ricard, na França, e aqueles onde o piloto permanece a maior perto do tempo com o acelerador no curso máximo, de alta velocidade. Dentre estes, Monza é o favorito da maioria. É para onde a F1 e a F2 estão seguindo nesses dias.

Na Bélgica, na prova do sábado, Sérgio Sette Câmara, piloto patrocinado pela Youse, da equipe Carlin, recebeu a bandeirada no fim das 25 voltas no seletivo e desafiador traçado de 7.004 metros em excelente segunda colocação, depois de largar em terceiro. Nyck de Vries, holandês da Prema, pole position, venceu, com o inglês George Russell, da ART, em terceiro, segundo no grid.

Com o critério do grid invertido dentre os oito primeiro, Sérgio, segundo no sábado, largou em sétimo no domingo. Vries, o vencedor, em oitavo, e Russell, terceiro, em sexto. Já o oitavo no sábado, o canadense Nicholas Latifi, da DAMS, cujo pai é sócio da equipe McLaren de F1, largou em primeiro. O sétimo, o italiano Luca Ghiotto, da Campos, em segundo, e o sexto, o russo Artem Markelov, da Russian Time, quinto na primeira prova, terceiro no grid da segunda.

Com as cartas embaralhadas no grid, Latifi largou em primeiro e venceu no domingo. O companheiro de Sérgio na Carlin, o inglês Lando Norris, avançou de quinto no grid, por ter sido quarto no sábado, para o segundo lugar no domingo, e o tailandês Alexander Albon, da DAMS, em terceiro, depois de largar em sexto.

Sérgio Sette disse no depoimento às mídias sociais da Youse: “Aconteceu alguma coisa com o meu carro, a equipe errou talvez a pressão dos pneus, pois nunca pilotei uma máquina tão lenta, distante da competição”. Ele terminou em nono.

Essa, outras informações e sua análise sobre a situação do campeonato estão no depoimento de Sérgio para o Youse sobre a participação no GP da Bélgica de F2. Mineiro, 20 anos, é o único brasileiro na categoria que mais prepara e lança pilotos para a F1, sua meta em 2020 e, dependendo dos acontecimentos nas três etapas finais da temporada, Itália, e depois Rússia, dias 29 e 30 de setembro, e Abu Dhabi, 24 e 25 de novembro, por que não se candidatar a uma vaga na F1 já em 2019?

É pouco provável, mas não impossível. Reconhecimento como piloto de potencial para poder estrear e evoluir na F1 Sérgio Sette já conquistou com seus seis convincentes pódios e uma pole position, este ano. O mais provável, contudo, é Sérgio disputar mais uma temporada de F2, como ainda mais protagonista do evento, e ser contratado por uma equipe já com alguns bons recursos da F1, o ideal para um piloto começar a trajetória no mundial.

O que Sérgio Sette disse sobre o seu fim de semana de corrida em Spa-Francorchamps

Sérgio Sette Câmara, em depoimento a Livio Oricchio

Oi pessoal.

Cheguei em Spa em sexta marcha, a mais alta da F2, por causa de ter estabelecido a pole position na etapa anterior, na Hungria, saber dispor de um carro rápido e meu histórico na pista: venci a corrida do domingo, no ano passado, em Spa. Estava muito confiante em conseguir um bom resultado e reduzir a diferença dos que estão na minha frente na classificação do campeonato.

E na sexta-feira e no sábado tudo ocorreu como eu havia planejado. Acompanhe comigo. No treino livre, na sexta-feira, fiquei dentre os três mais rápidos. Na classificação, logo depois, também registrei o terceiro tempo. Daria para ser segundo se tivesse feito uma volta absolutamente perfeita, acertado tudo nos mais de sete quilômetros de Spa. Mas em um traçado tão longo praticamente todo piloto pode perder alguns milésimos de segundo em algum ponto.

O Vries fez um tempo muito bom. Seu time, a Prema, pegou de novo a mão do carro. Em 2017 eles dominaram a F2. Este ano, não. O regulamento mudou bastante, novo carro, novos pneus. Agora parece que eles acertaram. Na Hungria, o Vries já havia sido primeiro na corrida do sábado e repetiu a dose na Bélgica. A minha equipe tem um carro rápido desde o começo do ano, trabalha muito bem.

Mas eu dizia, larguei em terceiro no sábado e o máximo possível era o segundo lugar na corrida, pois o ritmo do carro da Prema não dava para acompanhar. No fim, meus pneus estavam em condições um pouco melhores que o do Vries, mas mesmo assim não consegui me aproximar para tentar a ultrapassagem e vencer. Cruzei a linha de chegada 3 segundos atrás dele e o Russell, a quem eu havia ultrapassado, 7 segundos depois de mim.

Fiquei contente com o resultado, pois cheguei na frente de dois adversários com quem luto pelo terceiro lugar no campeonato. O Albon foi quinto e o Markelov, sexto.

Pior carro da minha vida

Fui para a corrida do domingo da mesma forma seguro de lutar por outro pódio, apesar de largar apenas em sétimo, por causa do grid invertido. Tinha comigo que seria difícil ultrapassar o Russell, sexto no grid, o Lando, quinto, mas ganhar a posição do Albon, quarto, Markelov, terceiro, Guiotto, segundo, e até o Latifi, primeiro, não era um sonho tão irrealista, principalmente se eu largasse bem.

Largada, em que drama elas se transformaram. Vocês se lembram que contei aqui o perigo que representava tantos carros ficarem parados no grid nas largadas, por causa dos problemas que tínhamos com a embreagem? Pois bem, agora os organizadores da F2 mudaram o sistema, o mapa de gerencialmento do motor, dentre outras coisas. Não temos mais o curso inteiro da alavanca de embreagem para modular a aceleração, mas apenas meio curso.

“Esperava dois pódios em Spa. Consegui apenas um. Meu carro, estranhamente, estava inguiável na segunda corrida.”

Na F2, como na F3 e, claro, na F1, nós trocamos marchas através de duas pequenas alavancas atrás do volante. Nós as acionamos com os dedos. Os da mão direita, usamos para crescer, 2ª, 3.ª, até a 6ª. Os dedos da não esquerda, ao puxar a alavanca, reduzimos as marcas, da 6ª até a primeira. E atrás dessas pequenas alavancas do câmbio, também acessada com os dedos, há outra alavanca. É a da embreagem. Reparou que para pilotar e trocar as marchas não tiramos as mãos do volante? Foi um avanço no automobilismo. Só usamos a embreagem para largar.

Voltando. Alguns pilotos deixavam o carro morrer no grid, antes da largada, por causa de não estarem com os giros tão altos, com receio de as rodas traseiras, as motrizes, patinarem demais e serem ultrapassados. Agora, o novo sistema acelera o carro até um ponto mínimo que os organizadores sabem não fará o carro não largar. Assim, sobrou pouco para pilotos mais sensíveis dosar a alavanca de embreagem e obter uma boa largada.

Nas últimas quatro largadas, com esse sistema, eu larguei bem em três delas. No domingo, não foi tão boa. Mas logo nas primeiras voltas percebi haver alguma coisa errada no carro. A traseira começou a escapar como nunca havia visto. Não era nenhum detalhe de acerto. Era muito mais grave, quem sabe pressão dos pneus. Os carros foram transportados para Monza, por causa das corridas já no próximo fim de semana, e lá iremos descobrir o que aconteceu.

Repare no que vou dizer: em toda a minha carreira eu nunca pilotei um carro como o meu no domingo, tão inguiável. Imagine que nas voltas finais eu estava virando 14 segundos mais lento que os meus melhores tempos no fim de semana em Spa. Não, amigo, não estava chovendo não. Na realidade, estava sim, mas só sobre o meu carro e tão logo eu passava por aquele ponto a pista já secava para os demais. Deu para entender?

Curti um telão

Eu não tinha ninguém perto de mim e podia acompanhar o que acontecia lá na frente pelos telões. Vi a turma do Vries, Markelov, Lando, bem próximos, lutando por posições e perguntei a mim mesmo em que mundo eu estava, dada a diferença de performance do meu carro para o deles. No nosso próximo encontro terei a resposta do meu engenheiro, Daniele Rossi, para o problema de Spa. O fato é que cruzei em distante nono lugar, a 33 segundos do Latifi, o vencedor. E no sábado ele recebeu a bandeirada em oitavo, 11 segundos atrás de mim, segundo. Alguma coisa aconteceu, não acham? E não comigo.

Não foi um bom fim de semana para mim quanto ao campeonato. Apesar de ter somado 18 pontos no sábado, não marquei pontos no domingo, enquanto o Albon, terceiro na classificação geral, a minha meta, ganhou 10 pontos pelo quinto lugar no sábado e 10 também pelo terceiro, no domingo.

Depois das 18 corridas, 9 etapas disputadas este ano, o Russell lidera com 188 pontos, seguido de perto pelo Lando, 183. Na sequência vêm Albon, 161, Vries, 153, Markelov, 128, e eu, em sexto, 124.

Vamos para Monza, agora, onde no ano passado cheguei no pódio também. Gosto da pista. Seleciona bastante os pilotos na freada. Essa é uma das áreas que, sem presunção, estou em bom estágio. Será como sempre digo, a Carlin deve nos dar um carro para lutar pelos primeiros lugares. Tenho certeza de que vão descobrir o que estava errado no carro domingo, em Spa, porque era muito evidente, e não repetiremos na Itália.

Até o próximo encontro, amigos. Abraços.

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