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Sérgio Sette Câmara fala sobre a desclassificação na corrida de Baku da F2

Sérgio Sette Câmara fala sobre a desclassificação na corrida de Baku da F2

Ganhamos e perdemos juntos

Sérgio Sette Câmara, de Barcelona (Espanha)

Oi pessoal!

Não tem essa de ficar lamentando a perda do segundo lugar na segunda corrida, lá na minha pista favorita, em Baku. Foi duro acreditar no primeiro momento, mas já assimilei o golpe.

Junto com meu engenheiro, o Daniele (o italiano Daniele Rossi), mudamos o carro da primeira corrida, no sábado, para a segunda, no domingo, e voltei a ter aquela confiança necessária para ser agressivo na pilotagem, como é fundamental em Baku, traçado super rápido e com muro dos dois lados do asfalto. Quem erra em Baku paga um preço alto.

Larguei bem de novo. Da quinta colocação avancei para terceiro, na curva 2 ultrapassei o meu companheiro na Carlin (o inglês Lando Norris) e fiquei em segundo. E no começo da segunda volta ultrapassei o Latifi (o canadense Nicholas Latifi, da equipe DAMS) para assumir a liderança.

Permaneci em primeiro até a 17ª volta. Faltavam apenas quatro para a bandeirada. O Russell (o britânico George Russell, da ART) me ultrapassou porque tinha um carro muito mais rápido que o meu. Acabei em 2º. Não fiquei chateado porque era o meu 3º pódio em quatro corridas. Na primeiro etapa, no Barein, fui 2º no sábado e 3º no domingo.

Na volta de regresso aos boxes, cumprimentei o Daniele no rádio, ele a mim, felizes, quando o carro deu uma falhada e o motor deixou de funcionar. Como o circuito é longo (6.003 metros), até um veículo da organização ir me buscar para levar à cerimônia do pódio demorou. Quando cheguei, estavam entregando os troféus e deu tempo de receber o meu, lindo por sinal.

Até aí, pessoal, tudo bem. Do pódio fomos à sala de imprensa e depois para a área reservada às TV, dei várias entrevistas. Como o Lando tinha terminado em quinto, ele somaria 6 pontos e eu, segundo, 12, o que me deixaria vice-líder do campeonato, um ponto apenas atrás dele, 53 a 52.

Até falar com todos os jornalistas passou um bom tempo. Isso tudo no paddock da F1. Terminada as entrevistas, caminhei para a área destinada às equipes de F2, o nosso paddock, não distante, do outro lado do paddock da F1.

Quando eu cheguei no espaço da Carlin, vi os comissários da FIA verificando o meu carro e fazendo coisas que eu não havia ainda visto. Junto dos mecânicos, levantaram o carro e o inclinaram, a fim de ver se conseguiam tirar os 800 mililitros de gasolina, quase um litro, como manda o regulamento, para checar sua legalidade. É a mesma para todos os pilotos.

Pois nem virando o carro foi possível, o tanque estava vazio. Conversei com o Daniele e ele assumiu o erro. Disse a ele que faz parte. E quando nós, pilotos, rodamos sozinhos? No meu caso é pouco comum, mas já aconteceu e pode acontecer de novo, apesar de eu me sentir muito mais preparado, este ano.

Gostaria de sair em defesa do meu engenheiro, com quem me dou muito bem. Eu liderei a maior parte da corrida. Foi o meu carro que teve de enfrentar, primeiro, ventos de até 60 km/h na reta de mais de dois quilômetros. Dá para ter uma ideia da força extra que meu motor teve de fazer, durante os mais de 30 segundos que ficamos com o acelerador no curso máximo?

Quem vem atrás, em uma reta como essa, bem de longe já pega o vácuo do carro da frente e precisa de bem menos energia para avançar. É por isso que vimos tanta ultrapassagem no fim da reta. No fim da primeira volta, como falei, eu peguei o vácuo do Latifi e senti os giros do meu motor crescerem, o que me permitiu ultrapassá-lo, sem dificuldade, para ser líder.

Portanto, o erro do meu time tem lá seus atenuantes. Liderar a corrida como fiz a maior parte do tempo consumiu bem mais combustível do normal. Mas é isso, ganhamos juntos e perdemos juntos. O grupo da Carlin é muito capaz e até agora está sendo ótimo comigo. Trabalhamos bem juntos.

Bola para a frente. Eu cheguei em casa, perto de Barcelona, na segunda-feira de manhã, depois de voar a noite toda, cansado e doído, claro, pela desclassificação, e já no dia seguinte, bem cedo, voei para Londres, a fim de passar o dia no simulador, me preparando para a terceira etapa do campeonato, dias 12 e 13 na pista perto de casa, em Barcelona. Saí de lá sem pensar mais na perda dos 12 pontos do segundo lugar em Baku.

Agora, em vez de ter 52 pontos e um apenas a menos do Lando, líder do campeonato, caí de segundo para terceiro, com 40 pontos. O Albon (o tailandês Alexander Albon, da DAMS) é o vice, com 41 pontos. E com minha desclassificação o Lando foi para 55. Tudo bem, vou para o GP da Espanha com ainda mais gana de terminar no pódio de novo. Sei que posso.

Na F2, é fundamental você somar pontos. No fim do ano, quando você for conversar com os chefes de equipe da F1, ou eles te chamarem, é isso o que vão olhar. Se eu deixei de somar 12 pontos na corrida do domingo em Baku porque eu não tinha 800 mililitros de gasolina no tanque nem vão se lembrar.

A memória no automobilismo é curta. E seus profissionais, extremamente objetivos. Tem pontos no campeonato, foi o campeão, o vice, o terceiro, pode eventualmente interessar. Não tem currículo, não interessa, obrigado.

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