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Sérgio: “Os tempos registrados nos testes da F2 são irrelevantes”

Sérgio: “Os tempos registrados nos testes da F2 são irrelevantes”

Enquanto Lewis Hamilton, da Mercedes, cinco vezes campeão do mundo, Sebastian Vettel, da Ferrari, tetracampeão, dentre outros, iniciam nesta terça-feira no Circuito da Catalunha, em Barcelona, a segunda série de treinos da pré-temporada da F1, os meninos da F2, sonhando com a chance de competir na F1, começam no autódromo de Jerez de la Frontera, também na Espanha, o primeiro dos três dias de testes antes da abertura do disputado campeonato.

A F2 é o último estágio da sua formação antes de, tudo dando muito certo, poderem se candidatar a seguir os passos de Hamilton e Vettel. Os 20 jovens pilotos que encaram o desafio da F2 na pista espanhola sabem que precisam deixar de lado todas as dificuldades inerentes à profissão escolhida, como permanecer longe de suas famílias, saber lidar com elevadas pressões e corresponder ao que todos esperam de si, em especial alguns de seus investidores.

Sabem não ser um exame necessariamente justo. Nem sempre os mais talentosos e bem preparados são os selecionados. Mas é como as coisas funcionam no automobilismo. Por isso não é uma atividade esportiva para os emocionalmente instáveis. Ser piloto implica ganhar maturidade pessoal e técnica antes da hora.

O Brasil será representado na F2 pelo mineiro Sérgio Sette Câmara, 20 anos, contratado pela equipe francesa DAMS, uma das de melhor histórico na competição. Patrocinado pela Youse, está mais animado do que nunca para ser aprovado no curso avançado da F2 e, com a experiência de piloto de desenvolvimento da McLaren, este ano, tornar-se titular de uma equipe de F1 em 2020.

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O ingrediente básico do sucesso Sérgio tem, como afirmou o seu ex-chefe de equipe de F2 na Carlin, o inglês Trevor Carlin:

“Talento não é problema para Sérgio. Ele tem.”

A primeira série de testes da pré-temporada da F2 se estende desta terça-feira até quinta-feira no traçado de Jerez, com 4.428 metros de extensão, 13 curvas. Depois os 20 pilotos, das dez escuderias da F2, terão mais três dias de treinos, de 5 a 7 de março, no Circuito da Catalunha, nos mesmos 4.655 metros onde a F1 tenta melhorar seus carros até sexta-feira.

A abertura do campeonato da F2 será de 29 a 31 de março no Circuito de Sakhir, em Barein. A F2 vai ter 12 etapas este ano, sempre com duas corridas, uma no sábado e outra no domingo. As 12 etapas são disputadas nos mesmos fins de semana dos GPs de F1. Sendo que nesta temporada a F3 também terá suas oito etapas, 16 corridas, junto da F1 e da F2.

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A Youse produziu um especial sobre a F2 este ano. Na reportagem, lembra como exemplo de sua importância para os pilotos o fato de os três primeiros colocados na edição do ano passado estarem hoje na F1: o campeão, o inglês George Russell, 21 anos, da ART na F2 e agora na Williams; o vice, outro inglês, Lando Norris, 19 anos, da Carlin e este ano na McLaren; e Alexander Albon, 22, indonésio, da DAMS e nesta temporada na Toro Rosso.

Os três primeiros colocados recebem 40 pontos na carteira. A FIA exige que os pilotos somem 40 pontos ao longo de três anos seguidos para obter a superlicença, documento que os autoriza a disputar a F1.

Depoimento de Sérgio Sette Câmara: Foco no campeonato

Entre uma reunião e outra com os integrantes da equipe DAMS no Circuito de Jerez de la Frontera, na Andaluzia, nesta segunda-feira, Sérgio deu um depoimento exclusivo à reportagem da Youse.

Olá, amigos.

Antes de falar do meu dia nesta cidade próxima à bela Sevilha aqui no sul da Espanha, gostaria de contar que antes de viajar para cá trabalhei bastante no simulador na DAMS na sua sede, ao lado do circuito onde são disputadas as 24 Horas de Le Mans, na França.

Além disso, segui rigoroso programa de treinamento físico. Mais: passei muitas horas pilotando kart, excelente para os reflexos, dentre outras atividades. Em resumo, não será por falta de dedicação e assistência de bons profissionais que, eventualmente, não consiga os resultados planejados para este ano. Estou orgulhoso da minha dedicação ao que faço. E, por que não, amor.

Minha confiança é grande em disputar uma convincente temporada de F2. Nesta segunda-feira, por exemplo, eu e os engenheiros da DAMS estudamos o extenso programa de testes para os três dias de treinos. Você pode pensar algo assim: mas na F2 não é tudo igual para todos, chassi Dallara, motor Mecachrome de 3,4 litros, V-6, de 620 cavalos, câmbio de seis marchas, pneus Pirelli.

Sim, verdade, mas aí é que está o problema da F2. Você tem de pesquisar cada área do carro em detalhes sem precedentes nas categorias anteriores. Você e os engenheiros do time têm de descobrir onde ganhar alguns milésimos de segundo. Acredite, nesse nível de competitividade faz diferença.

É o que vamos fazer aqui em Jerez. Se vocês vissem a lista do que tenho para testar.

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Além disso, é muito importante você se habituar com todos os procedimentos da equipe. Se acontece isso, como vamos reagir. Se na corrida surgir algo de determinado gênero, qual a reação mais indicada. Como essas respostas são coletivas, do piloto e do time, é preciso ensaiar tudo com perfeição.

Eu e o pessoal da DAMS temos experiência para saber como as coisas mudam nas corridas, de um instante para o outro, no caso de um safety car, chuva, por exemplo, e como uma decisão certa, oportuna, nessa fração de segundo pode te levar à vitória. Ou, se errada, jogar uma vitória pela janela. A F2 é rica de exemplos dessa natureza.

Quando você revê algumas dessas experiências com os seus técnicos e estuda o melhor a ser feito nessas condições, as chances de ser surpreendidos são menores, mas sempre existentes.

O que essa dedicação toda ao que falei quer dizer? Não estamos muito interessados em saber o resultado do cronômetro. Nosso programa prevê passarmos por todas essas experiências, não colocar pneus macios novos para obtermos um grande tempo. Nesse momento, acho perda do precioso tempo nos dedicarmos a trabalhar o carro a fim de ser rápido em uma volta lançada, como será nas sessões de classificação ao longo do campeonato. Para quê?

Quem sabe no próximo teste, em Barcelona, se todo o programa de testes já ter sido cumprido, o que duvido, por ser muita coisa.

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Olha, amigo, vi muitos macetes na F2, gente querendo impressionar nos testes pelos mais diferentes interesses. Se você abaixar um pouco a pressão mínima dos pneus, seu carro se torna mais rápido por exemplo. Nos testes não há controle. O carro pode estar mais leve também. Isso tudo faz enorme diferença na tabela de tempos.

Não se decepcione

Dá para compreender melhor, agora, os motivos de eu dizer que os tempos têm bem pouca representatividade na pré-temporada?

Fiz questão de me estender nessa explicação para evitar de quem acompanha meu trabalho, e tiver contato com os tempos ao final de cada dia, não se decepcionar. É bem provável que eu e talvez o meu companheiro, o experiente canadense Nicolas Latifi, no seu quarto ano na F2 e na DAMS, com quem estou me dando muito bem, não estejamos dentre os primeiros. Não faz parte dos planos da DAMS, a princípio, colocar pneus macios novos, pouca gasolina no tanque e sair impressionando.

Temos coisas mais importantes para fazer, por exemplo entender como sermos rápidos nas várias condições do fim de semana. Isso, sim, poderá nos dar bons resultados ao longo do campeonato.

Outra área em que trabalhei com a DAMS para esses testes é aquela que já comentei aqui. Eu treinei com eles no fim do ano passado, no Circuito Yas Marina, em Abu Dhabi. E vi logo que os franceses da DAMS têm um maneira distinta de acertar o carro em relação aos ingleses da Carlin, por quem corri no ano passado. No começo, até estranhei. Eu me perguntei como poderia ser rápido com aquele carro?

Depois fomos trabalhando o acerto para o meu estilo de pilotagem. Hoje no simulador me sinto muito mais à vontade no carro da DAMS. Mas, você sabe tanto quanto eu que o que vale mesmo é a hora que colocamos o carro na pista. Aí, sim, vemos o resultado dessa dedicação toda. Não diria em termos de velocidade absoluta, mas de acerto básico do carro. Com ele podemos ser rápidos.

Ao mesmo tempo em que me dediquei ao programado pela DAMS para esses dias que antecederam a nossa pré-temporada permaneci muito atento aos resultados da McLaren nos testes da F1, em Barcelona, na semana passada. Se não tivesse uma agenda cheia com a DAMS, pois minha prioridade é a F2, estaria junto com o pessoal da McLaren no Circuito da Catalunha. Fui muito bem recebido por eles.

O carro da McLaren é completamente novo este ano. Eles não querem de forma alguma ter outro ano difícil como os últimos. O time recolheu preciosos dados nos quatro dias de testes com o Carlos Sainz Júnior e o meu ex-companheiro na Carlin, em 2018, o Lando Norris. Esses dados já estão nos computadores do simulador para eu testar o modelo MCL34-Renault.

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Esta semana e na próxima entrei de cabeça nos testes da F2, por ser o sucesso aqui que me levará à F1, mas na seguinte, enquanto a F1 estiver na Austrália, para a etapa de abertura do seu campeonato, de 15 a 17 de março, vou permanecer o tempo todo no simulador da McLaren, em Woking, ao sul de Londres, tentando descobrir com os engenheiros o que pode ser feito para melhorar o desempenho do time no Circuito Albert Park.

Vamos lá. Fica marcado novo encontro entre nós ao fim de cada dia desses três que vamos treinar aqui em Jerez, pista das mais abrasivas e de menor aderência existente? E depois também na semana que vem, direto de onde resido, em Barcelona, pista das mais lisas e de maior aderência do calendário? Jerez e Barcelona são opostas, amigos.

Grande abraço e até amanhã!

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