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Sette Câmara fala sobre problema do motor em Silverstone

Sette Câmara fala sobre problema do motor em Silverstone

Novos desafios a cada corrida

Sérgio Sette Câmara em depoimento a Livio Oricchio

Olá amigos. É bom falar com vocês, por vezes funciona como uma válvula de escape para mim, diante de tantas dificuldades. Vou começar pelo começo, como se diz na minha terra. Na definição do grid para a primeira corrida eu fiquei em quinto. Enquanto voltava para os boxes, depois de fazer meu tempo, pensei que havia cometido um pequeno erro em uma freada. O carro se desequilibrou. Perdi algo como dois décimos de segundo, o que me colocaria na primeira fila, ao lado do Russell.

Mas quando meu engenheiro, Daniele Rossi, foi verificar o carro, descobriu que o disco de freio traseiro esquerdo havia vitrificado, o que levou o sistema a travar o do outro lado, o direito. Foi isso que fez o carro dar uma balançada, não eu. Uma pena.

Sobre a corrida, fui com a maior confiança, por saber que tinha um carro bem acertado e eu adoro a pista, curvas de alta velocidade, como a fantástica sequência de “esses” super-rápidos, Maggotts, Becketts e Chapel. Mas, como expliquei da outra vez, incrivelmente os organizadores da F2 não resolveram ainda os sérios problemas de embreagem que a categoria enfrenta, levando vários pilotos ficarem parados no grid na largada. Um baita perigo.

Por isso nós largamos atrás do safety car. Perdi um dos meus pontos de força, a largada. Comecei em quinto e me mantive em quinto. Depois do pit stop, estava bem veloz, chegando no Fuoco e tenho certeza de que poderia ultrapassá-lo para terminar no pódio. Entrei no DRS do Fuoco, ou seja, estava a menos de um segundo dele, o que me dava o direito de usar a asa móvel para ultrapassar nas retas. Ninguém atrás também me ameaçava.

Havia uns barulhos novos no carro no fim de semana. Os organizadores fizeram uns ajustes nos motores. Eu ouvi um som diferente no meu motor, mas dentro do elenco de novidades, fiquei na minha. De repente, sem que algo me sinalizasse um problema técnico, perdi potência e vi pelo espelho um mar de fumaça. Perdi os 15 pontos do terceiro lugar, resultado que me ajudaria muito avançar na classificação do campeonato.

Ainda dá para ser terceiro no campeonato

Com todos esses pepinos, este ano, a meta é terminar em terceiro, pelo menos. Temos ainda cinco etapas, dez corridas, até o fim, portanto um objetivo realista, tendo em conta o bom carro da minha equipe, Carlin, e como me sinto confiante nas competições.

A vitória do Albon no sábado o ajudou a ter uma folga na terceira colocação da tabela. Ele soma agora 115 pontos, enquanto eu estou em sexto, com 86. O líder é o Russell, com 170, seguido pelo Lando, 133. Estão ainda na minha frente Artem Markelov, o russo do Russian Time, quarto, com 110, e o Fuoco, 97.

Um bom resultado como o terceiro lugar no sábado, em Silverstone, com chance de outro pódio no domingo, me leva para o quarto lugar, dependendo, claro, do que fizerem Markelov e Fuoco. Mas, como falei, a falta de resultados melhores é circunstancial, problemas com o carro na maior parte das vezes. E eu não vou ter sempre panes mecânicas, daí a minha confiança.

Estou sendo “contemplado” demais com panes de motor, elétrica, gasolina

Assim como eu enfrentei essa enxurrada de eventos desfavoráveis, de repente é a vez do Markelov e do Fuoco viverem seus azares. Não desejo o mal para ninguém. A energia que você emana é a que você recebe. Mas isso faz parte do nosso esporte e estou sendo “contemplado” demais com panes de motor, elétrica, gasolina. Vamos dividir um pouco, não acham?

Não ter recebido a bandeirada no sábado me levou a largar lá atrás no domingo. Já expliquei aqui. Na F2 trabalhamos com o grid invertido entre os oito primeiros. O oitavo no sábado larga na pole position no domingo. O sétimo, em segundo. O sexto, terceiro. O primeiro, oitavo no grid do domingo. A partir daí, você larga na posição que chegou. Se for nono, será nono, por exemplo.

Mesmo sem receber a bandeirada, fiquei em 18º no sábado, posição que larguei domingo. A corrida é mais curta, 21 voltas em vez de 29, e não há pit stop. Largamos com os pneus duros, de menor degradação, podemos exigir mais quase o tempo todo. Agora, ultrapassar é muito difícil, mesmo em Silverstone e com o DRS.

Você joga muito do que pode fazer na corrida na largada. Se cruzar no fim da primeira volta digamos entre os dez primeiros suas chances de marcar pontos crescem. Só os oito primeiros marcam pontos no domingo, enquanto no sábado, além de mais pontos, os dez primeiros recebem pontos. O vencedor no sábado soma 25 pontos. No domingo, 15.

Tinha de arriscar

Em 18º no grid, a única chance de marcar pontos no domingo seria tentar algumas ultrapassagens logo na primeira volta, depois de o safety car sair da pista. Como expliquei, tinha de arriscar, caso contrário seria aquela corrida burocrática, de largar em 18º e receber a bandeirada, em 12º, 13º, sem brilho algum.

Tive a chance de ultrapassar o canadense Nicolas Latifi, da DAMS, que largou do meu lado, em 17º, coloquei do lado dele, eu já estava com o carro metade na zebra e metade no asfalto, e ele fechou a porta como se não houvesse ninguém lá. A consequência desse ato impensado do Latifi, pois não foi uma defesa de posição, foi uma colisão.

Eu danifiquei o aerofólio dianteiro, comprometendo a minha corrida, o que é bem raro. Terminei em 18º.

Se você analisar o meu histórico verá que é bem pouco comum eu rodar ou colidir com alguém. Pense comigo: você viu que minha velocidade como piloto não é diferente desse pessoal que está na minha frente no campeonato. Dois: o carro da Carlin não evoluiu como o da ART, do Russell, que por vezes impressiona a todos na F2 por causa da diferença de velocidade que nos impõe. Mas se o carro da Carlin não é o melhor, está longe também de ser ruim. É um bom carro.

Com todos esses elementos a meu favor, não marquei um único ponto em Silverstone. No sábado porque o motor quebrou, quando podia ser terceiro, e no domingo, ao largar em 18, acabar me tocando com o Latifi. Só Deus sabe como preciso desse intervalo no calendário da F2, para assimilar esses eventos desfavoráveis e ganhar ainda mais energia quando retomarmos nossas atividades de pista.

A experiência ensina que não posso me abalar a ponto de interferir na produção na etapa seguinte

Nós não faremos as preliminares do GP da Alemanha de F1, dias 21 e 22. A F2 não correrá em Hockenheim. Vamos, agora, direto para a Hungria, junto da F1, com os primeiros treinos livres dia 20, sexta-feira.

A experiência ensina que não posso me abalar a ponto de interferir na produção na etapa seguinte. Lembra que contei aqui que não corri em Mônaco, por causa do ferimento do punho direito, e quando cheguei para a corrida de Paul Ricard, a seguinte, não me deixei atingir pela pressão e consegui, de cara, um pódio, segundo colocado?

Tenho de seguir a mesma receita, agora. Relaxar bastante nesse período sem GP no calendário da F2, refletir, claro, e viajar para Budapeste recarregado. Tenho fé que será como no GP da França, vou conseguir um bom resultado depois de um fim de semana difícil. Obrigado, amigos. Até a Hungria.

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