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Sérgio Sette Câmara analisa a sua temporada de F2

Sérgio Sette Câmara analisa a sua temporada de F2

Como a F2 não acompanhará a F1 nos seus deslocamentos pelo Japão, México, Estados Unidos e Brasil, a 12ª e última etapa do campeonato será disputada somente de 29 de novembro e 1º de dezembro, no Circuito Yas Marina, em Abu Dhabi. Depois da corrida na Rússia, de 27 a 29 de setembro, portanto, a F2 tem uma pausa de dois meses no calendário.

O campeão foi conhecido na Rússia. A vitória do holandês Nyck de Vries, 24 anos, da ART, na corrida do sábado, em Sochi, lhe garantiu o título. Como praticamente não há vaga na F1, Vries assinou para competir, em 2020, pela equipe oficial da Mercedes na Fórmula E, destinada a carros elétricos.

Mas há muito em jogo na última etapa do ano. Quem termina o campeonato entre os três primeiros recebe da FIA a superlicença para candidatar-se a disputar a F1. Vries somou nas dez etapas, nove disputadas, 266 pontos. Obteve quatro vitórias, 12 pódios e cinco pole positions.

O GP da Bélgica, nono do ano, entre 30 de agosto e 1º de setembro, não foi disputado por causa do acidente entre o americano Juan Manuel Correa, da Sauber Junior, e Anthoine Hubert, da Arden. Correa segue tentando salvar seu pé direito em um hospital, em Londres, enquanto Hubert perdeu a vida.

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Hoje o segundo colocado na classificação é o canadense Nicholas Latifi, 24 anos, da DAMS, com 194 pontos e quatro vitórias, primeiro critério de diferenciação entre pilotos com o mesmo número de pontos. A seguir, em terceiro, vem o italiano Luca Ghiotto, 24 anos, da UNI-Virtuosi, com 184 pontos, três vitórias. Sérgio Sette Câmara, 21 anos, patrocinado pela Youse, da DAMS, é o quarto no campeonato, com 165 pontos, uma vitória, e o inglês/coreano Jack Aitken, 24 anos, da Campos, quinto, com 159, três vitórias.

Se Sérgio terminar em quarto somará 30 pontos em vez de 40 dos três primeiros. Mas obterá a superlicença por ter 10 pontos do sexto lugar na temporada do ano passado. Assim, basta manter-se onde está que atinge a sua meta inicial, dispor do documento que o permitirá se não disputar a F1, em 2020, ao menos tornar-se terceiro piloto, ao mesmo tempo em que compete mais um ano na F2.

Enquanto se prepara fisicamente e treina de kart para manter-se em forma, a agenda de Sérgio o manterá por vários dias na sede da McLaren em Woking, ao sul de Londres, sede da equipe McLaren de F1, para quem realiza os trabalhos no simulador.

Sérgio: “Eu e a DAMS, um casamento que não deu certo”.

No intervalo entre uma sessão e outra de atividades para a McLaren Sergio deu o depoimento abaixo para a Youse.

Olá amigos.

Na pausa anterior do calendário eu não parei um momento sequer, o que foi ótimo. Agora não creio que será muito diferente. Vamos nos reunir várias vezes na sede do meu time, a DAMS, a duas horas de carro de Paris, visando a etapa decisiva da F2.

Obviamente vou dar tudo para ser vice-campeão, difícil, pela diferença de pontos para o Nicholas (Latifi), 29 pontos, mas não impossível. Se não der, então o terceiro lugar, pois o Ghiotto tem 19 pontos a mais. Em último caso, manter-me em quarto para obter a superlicença.

Apesar de os resultados terem ficado abaixo do esperado este ano, seria muito bom assinar com alguém da F1 para ser o terceiro piloto em 2020, o que me colocaria ainda mais próximo das reuniões entre pilotos e engenheiros, enfim, eu aprenderia mais.

O pessoal da Youse me pediu para fazer uma análise da minha temporada.

Olha, como sempre expresso aqui, eu esperava ter conquistado mais vitórias que a única que tive, na Áustria, e a pole, em Paul Ricard, na França. A DAMS é uma escuderia bem profissional, estuda cada detalhe do que é o automobilismo, do que fazer para tirar mais velocidade do carro e tomar as decisões mais apropriadas.

A decisão de trocar a Carlin, inglesa, de 2018, pela DAMS, francesa, nesta temporada, tem a ver com isso, as informações que temos na F2 desse avanço deles. Confirmo ser mesmo assim, mas infelizmente nosso casamento não foi dos melhores.

Deixa eu explicar uma coisa. Não entendam, por favor, como desculpa por não ter lutado pelo título, como imaginava. Mas desde o primeiro teste com o carro da DAMS, em Abu Dhabi, no fim do ano passado, percebi que eles adotam um acerto básico que em nada favorece o meu estilo de pilotagem.

Não atinge o limite

A consequência disso é eu não ter um carro que permita ir ao limite na melhor volta do pneu na sessão de classificação, onde muita coisa é definida na F2, e depois nas primeiras voltas, principalmente, das corridas.

Trabalhamos duro para trazer o acerto do carro para privilegiar o meu estilo. E até conseguimos, embora não totalmente, só que nesse modelo de ajuste do chassi, adotar o acerto que traz o carro mais para as minhas mãos, o torna mais lento. Tem a ver com o acerto básico, teríamos de mudar tudo.

Assim como você deve se impressionar com o fato de eu ter largado até depois do décimo colocado, em algumas ocasiões, enquanto no ano passado estive sempre os cinco primeiros, saiba que me incomodou mais a mim mesmo.

Meus pneus traseiros trabalham em uma temperatura maior da normal, isso os faz gerar menos aderência. Você reparou como perco posições no começo das corridas? Parece que estou pilotando com pneus lisos na pista molhada, meu carro escorrega mesmo. Depois vai melhorando.

Em algumas pistas, por uma combinação de razões, como o tipo de asfalto, a natureza do traçado, o clima no dia, como na França e na Bélgica, esse problema se manifestou menos.

Em outras, mais. Foi o caso do GP da Espanha, por exemplo, em Barcelona. Não conseguia pilotar o carro.

Equipe fez o que tinha de fazer

Não estou acusando, por favor, o meus engenheiros na DAMS. Eles sempre procuraram deixar as reações do carro mais favoráveis para mim. Mas é como falei, não evoluímos como seria necessário, as responsabilidades são comuns.

Vamos ver se nesses dois meses até o GP de Abu Dhabi descobrimos algo que nos dê maior velocidade, um conjunto de soluções que me permita ter um fim de semana sem as tradicionais dificuldades deste ano. Quero sair do Circuito Yas Marina como vice-campeão do mundo ou terceiro colocado.

Você que me acompanha neste nosso espaço e na mídia talvez queira saber o que desejo fazer em 2020. Obviamente seria ser titular de alguma equipe da F1. Sinto-me preparado para esse desafio. Mas você viu que mesmo o campeão da F2, este ano, o Nyck, não tem espaço na F1?

Assim, farei mais um ano de F2. Apesar de os resultados não dizerem muito, o pessoal do meio reconhece que as minhas poucas vitórias e poles têm a ver diretamente com a dificuldade em explorar melhor os pneus, dentre outros motivos. As principais equipes de F2 manifestaram interesse em me ter como piloto em 2020. Vamos ver como ficará essa questão.

Até embarcar de Barcelona ou Londres para Abu Dhabi, no fim do mês que vem, vamos nos encontrar mais vezes por aqui. Grande abraço, amigos.

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